3 Dez 2006

Agrada-me que a minha banda preferida não possua um reconhecimento à escala mundial.
Agrada-me que, mesmo assim, tenha boa reputação perante a crítica e respeito em geral no meio musical.
Agrada-me que seja uma banda capaz de uma versatilidade musical dentro do espartilho rock alternativo a que foi catalogada.
Agrada-me saber tratar-se de uma banda que se dá por satisfeita em gravar o seu disco e que este será sempre bem recebido e comemorado por aqueles poucos que acompanham fielmente a sua carreira.
É que não dá para enganar. Há pérolas a descobrir e prazer em partilhá-las e dá-las a conhecer.
E se o fazem nos seus álbuns, o mesmo acontece ao vivo. Falo de canções que não fariam parte do meu repertório a ouvir mas que, através de uma nova roupagem ou apenas porque ao vivo resultam muito melhor, transformam a ideia que tinha delas. Exemplos claros disso são o primeiro single, Mr. Tough, extraído do novo álbum ou uma das 4 versões que fizeram de Nuclear War de Sun-Ra. Principalmente esta última, que cria tal empatia com o público que não podemos ficar indiferentes ao final do concerto, antes dos 4 encores da banda, a bater palmas na sua retirada para o backstage, descendo do palco em direcção a uma das saídas laterais e passando por um público que os acompanha até que voltem para mais!
Voltando ao início do concerto, passam 15 minutos das 21h00 e o nosso Quim Zofrénico e eu, feitos dois velhos marretas, vociferamos a falta de pontualidade e o desrespeito por quem no dia seguinte trabalha e nos obriga a ir a um concerto num Domingo. Isto, para além dos comentários que se ouvem por se estar num concerto destes na sentada Aula Magna, Mas aqui discordo. Acho que ninguém está impedido de ir para um dos seus corredores abanar a anca ou mesmo esquizofrenar aquando dos delírios das guitarras de Kaplan.
Começa o concerto e não restam dúvidas! Nada melhor que estar refastelado na minha cadeira a ouvir o sussurro da voz ao ritmo da limpeza da vassoura que jaz(z) na bateria. Um belo início ao som de Our way to fall.
É nesta vertente, a mais calma, que me derreto. Principalmente se for a Georgia Hubley a cantar. Ainda hei-de escrever sobre as vozes femininas que mexem comigo. Esta, está lá no topo pela sua beleza e simplicidade. Acho que é a partir do momento em que canta a solo algumas músicas, deixando o backing-vocal dos primeiros álbuns, que muda de maneira um pouco mais sensível a direcção da sua sonoridade. Surge a melodia e delicadeza que transforma a overdose de guitarra inicial em mesclas sónico-doces, tranquilas e intimistas, aperfeiçoadas até às canções mais belas que já ouvi. A par destas, só as instrumentais hipnóticas e envolventes que instituem novas texturas, microfonias e atmosferas ao seu som. Mas uma Green arrow ao vivo seria pedir demais. Pelo meio, e revezando-se uns aos outros, ficaram os três riffs do punk, a tristeza bela de alguns temas, o desvario do feedback e mesmo um órgão tresloucado.
Adorei o silêncio e a doçura de I feel like going home, ainda melhor ao vivo, e o final, de novo com Georgia a dar voz a I found a reason dos Velvet Underground. Não antes de tentares dar por terminado o seu último concerto da tour com um final natalício, de rock n' roll Santa, ou na vertente de discos pedidos com os Beach boys.
Mas todas as suas tentativas esbarravam contra o público que pedia por mais. E claro, em vinte e tal anos de carreira, fica sempre qualquer coisa por tocar. Lembro o gozo que me deu acompanhar You can´t have it all, ao vivo, noutra ocasião, e que nesta noite teria tido certamente o mesmo efeito. Naquela noite, até fizeram uma coreografia propositadamente brega adorável em que, no final, formavam um coração com os braços. Igualmente o chorinho brasileiro de Center of gravity faria sorrir, como só a bossa nova faz.
Nesta noite, as músicas foram outras, mas sempre com o mesmo improviso, diversão e à vontade. E, o que interessa, é que mesmo sem esta ou aquela, em mais de duas horas, eles tiveram-nos mesmo na mão.
Quanto a mim e quanto a este concerto, yo lo tengo na memória. Take care...

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