De todos os "males" de que padeço, de vez em quando é-me aplicado, como quem aplica um estalo, na testa, mais um rótulo: a impassibilidade.
Por um lado, agrada-me ser o sereno epicurista da tranquilidade da alma, da ausência de perturbação, sem transtornos e agitação, sem qualquer inquietação. Uma cara de pedra. Um Takeshi!
Por outro lado, identifico tais termos com a apatia, um estado acomodado, a pender para o catatónico.
Retiro a marca aplicada na testa e afirmo que o domínio de si, o estado de alma que, à primeira vista, se tornou estranho às desordens das paixões e insensível à dor, não rejeita a felicidade, não renuncia ao prazer e à dor. Cedo aos impulsos dos instintos como os demais, mas sou capaz de não exteriorizá-los, não os demonstrar, levando ao pensamento dos outros que me encontro desligado, quando apenas se trata de não permitir a perda do equilíbrio espiritual.
É que, já que as coisas não podem ser de outro modo, o mais sensato é apreciá-las como o são. E se gosto de dizer que me contento com pouco, digo-o no sentido do desfrutar das pequenas coisas e não necessitar de grandes feitos ou acontecimentos para me sentir bem.
Como Ricardo Reis, procuro simplesmente aderir ao momento presente, gozá-lo, sem nada mais pedir. Tal atitude não implica comodismo, apenas o prazer do agora, procurando, é certo sem grande esforço, algo mais.
Mas, sempre me disseram que nasci com o cu virado para a lua.
E eu, nunca discordei.
"Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele.
Quanto vivas
Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!"
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